Ter patrimônio ou fluxo? O que é melhor para se aposentar?

Marcus V. Schönhorst W. Müller
Marcus V. Schönhorst W. Müller
August 2023
5 min

Patrimônio líquido ou fluxo de caixa?



O patrimônio líquido é o que importa, certo? Afinal, é a nossa medida de sucesso. Quantas pessoas você conhece que, secretamente (ou não tão secretamente!), se comparam com os outros. Olhando a fortuna que acumularam durante a vida.


E quando se trata de aposentadoria antecipada e independência financeira, isso parece ser mais verdade ainda. O patrimônio líquido é uma parte importante no cálculo que você deve fazer para poder se aposentar mais cedo.


Mas é apenas uma parte desse cálculo – e eu diria que não é a parte mais importante. Em vez disso, sugiro que o fluxo de caixa é o assunto em que você realmente deve se concentrar ao fazer seus planos financeiros.


E aqui está o porquê…


Perseguindo o patrimônio líquido


No início da jornada de independência financeira, é muito fácil ver por que as pessoas se concentram no patrimônio líquido. 


Afinal, é preciso dinheiro para ganhar dinheiro. Um ritmo de poupança (dinheiro sendo investido) decente só fará parte do caminho. Maximizar ganhos e investir bem sempre acabarão sendo as grandes alavancas financeiras. Estas são ferramentas que aceleram seu caminho para o número mágico que você está perseguindo.


Felizmente, nesta fase do jogo, é muito mais fácil assumir os riscos que, esperamos, proporcionarão o crescimento que você deseja.


O debate sempre será intenso entre investimento passivo ou ativo. Esse é um assunto complexo, para outro texto, inclusive. Tudo o que quero destacar agora é que é muito mais fácil correr riscos no início do seu caminho.


Quando você corre riscos desde cedo, no mundo dos investimentos, você tem o tempo do seu lado para que o mercado corrija sua direção. Superar a flutuação de altos e baixos é muito mais fácil quando você não depende dela para sobreviver. Enquanto você ainda está trabalhando e ganhando uma renda, você pode lidar com o risco extra.


Mas o que acontece quando você puxa o gatilho e se aposenta?


Pois é. Parabéns, você fez o seu número mágico. Isso é incrível e merecido. Eu sei em primeira mão que não é fácil.


Mas (sempre um porém) - como você calculou esse número de patrimônio líquido em primeiro lugar?


Você está utilizando a ideia de conseguir 1 milhão? Vai usar a regra dos 4%? Vai comprar imóveis e alugar para ganhar 10 mil reais por mês “facinho”? Vai depender do INSS? Dos filhos? Ou vai esperar chegar lá para ver?


Infelizmente, muitas pessoas não prestam atenção nisso, porque o futuro é chato. É difícil, ele parece muito distante. "Vai mudar tudo até lá então não vou me preocupar agora".


Não discordo que o mundo mudará muito em poucas décadas, mas na minha opinião isso é mais um fator para um bom planejamento e uma boa estratégia.


Bom. Quando você se aposenta a sua estratégia deve mudar. Um portfólio de aposentadoria deve ser um portfólio seguro, um portfólio seguro é um portfólio com baixa rentabilidade (o que torna difícil bater a inflação).


Os dois simplesmente não podem andar juntos – por mais que nós quiséssemos. 

Você não pode ter um portfólio de menor risco e esperar o mesmo nível de retorno que um de maior risco. Qualquer um que lhe diga o contrário provavelmente não sabe o risco que está realmente correndo.


Mas e agora? O que devo fazer? 

Bom, conhecer e encarar o problema é metade do caminho – a parte muito mais interessante é o que você pode fazer sobre isso?


Comendo o bolo do patrimônio líquido


Há uma resposta óbvia para a pergunta ‘quanto de patrimônio líquido devo calcular?’. Essa resposta é óbvia mas não é popular. Por quê?

Porque significa usar um retorno esperado menor, para calcular quanto de patrimônio líquido você vai precisar. Ou seja, para ter o mesmo retorno esperado, você terá que buscar um valor de patrimônio líquido mais alto.


Alternativamente à isso, uma outra pergunta bem diferente que você pode fazer é:

Quanto risco eu estou preparado para assumir na aposentadoria?


Veja que não há escapatória para a relação risco retorno. Se você quer acumular um patrimônio menor, mantendo a renda você deve estar disposto a assumir um risco maior.

Esse é um ponto extremamente importante, não se engane na hora de planejar sua aposentadoria. Não finja que você vai conseguir tirar aqueles famosos 1% ao mês, quando se aposentar, sem tomar grandes riscos.

O problema é que (e isso vai parecer óbvio) não é nada fácil enfrentar uma grande correção de mercado quando você não tem mais essa renda regular do trabalho.

E é por isso que, pelo menos para mim, o fluxo de caixa é muito mais importante do que o patrimônio líquido, quando você pensa em aposentadoria. 


Fluxo de caixa é rei


Além dos direitos bizarros de se gabar, o patrimônio líquido por si só parece um número bastante sem sentido. O que realmente importa é o que você pode fazer com isso. E se, você está pensando em se aposentar, isso significa convertê-lo em fluxo de caixa real.


Pensar em fluxo de caixa é bem diferente do que pensar em patrimônio. No momento em que você consegue isso, você passa a aceitar e se preparar muito melhor para as oscilações do mercado.

A minha sugestão para que você faça essa mudança de pensamento é dividir o patrimônio líquido entre três tipos diferentes: Líquido, Gerador de Renda e Gerador de Crescimento.


Estratégia de portfólio para depois da aposentadoria


Quem me conhece sabe que, volta e meia, estou falando dos riscos desconhecidos que você corre durante a vida. Daí a parte 'líquida' do seu portfólio, a reserva de emergência - nada fora do normal aqui.


Onde as coisas ficam diferentes é na fatia de Geração de Renda.


Essa parte da carteira é onde trabalho a ideia de “fila de renda fixa” e principalmente a de investimentos que se encaixam na entrega de fluxo de caixa real com um retorno esperado aceitavelmente menor em relação aos mercados de ações. Menor risco, menor retorno, sempre. Na fila de renda fixa eu trabalho com os vencimentos dos títulos de modo que sempre existam produtos vencendo e gerando um fluxo de caixa na carteira. Nos investimentos que entregam fluxos de caixa podemos ter debêntures e títulos com cupom, fundos imobiliários, entre outros.


A vantagem, na minha opinião, é que essa fatia retorna uma boa quantia de dinheiro a cada ano, permitindo que você se sinta mais confortável em lidar com a volatilidade associada à fatia final do bolo, Geração de Crescimento.


Esta fatia é 100% ações. Aqui você pode investir de forma ativa e passiva ao mesmo tempo. No meu caso eu geralmente dedico uma parte dessa fatia, onde invisto em minhas visões do que será grande em 15-20 anos, outra parte onde trabalho de forma mais ativa tentando me apropriar de movimentos especulativos assimétricos no mercado. Isso obviamente não é para todo mundo e isso é normal. Quem esta pensando na sua aposentadoria, antecipada ou não, pode manter ações de dividendos, ações Blue Chips, ou outro tipo de ações de empresas mais robustas.


Os retornos de longo prazo dessa fatia fazem o trabalho de manter o retorno real geral do portfólio em alta. E se você organizou e planejou tudo direitinho, você pode ficar mais tranquilo pois terá fluxo de caixa para enfrentar a inevitável volatilidade do mercado


Fluxo de caixa - o verdadeiro objetivo da aposentadoria antecipada


No final das contas, para mim, investir depois da aposentadoria é uma coisa só.

Qual é a maneira mais simples e menos arriscada de gerar o fluxo de caixa que queremos a cada ano até que esperemos morrer?


O que importa é um portfólio que lhe permita viver a vida que você quer.


Claro que há um grande número de suposições nessa abordagem também. Haverá em qualquer estratégia de investimento. Como sempre, não estou dizendo com firmeza que esta é a resposta certa para todos!

Você deve fazer as suposições mais pertinentes para sua vida. Hoje eu não falei muito neste texto sobre planejamento, mas é ele que vai te ajudar muito nessas suposições.


Esse é, para mim, o motivo pelo qual focar no fluxo de caixa sempre vencerá o patrimônio líquido como o número mais importante ao descobrir sua própria estratégia de investimento na aposentadoria.

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Marcus V. Schönhorst W. Müller
CEO, Ascenda Investimentos