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A semana 48 do ano começa com os mercados globais em um ritmo mais controlado, depois de um mês de forte desempenho dos ativos de risco. Lá fora, juros longos seguem recuando e o investidor se apoia no cenário de cortes adicionais pelo Fed. Aqui dentro, porém, a palavra é digestão: ainda estamos assimilando os efeitos da nova tabela do Imposto de Renda aprovada no Congresso e seus desdobramentos sobre consumo, fiscal e curvas de juros.
Os mercados americanos iniciam a semana com um tom firme, mas contido. As bolsas operam próximas à estabilidade, enquanto os yields dos Treasuries consolidam o movimento de queda iniciado em novembro. A Associated Press destaca que, na manhã desta segunda, os índices globais abriram mistos, mas os futuros de NY mostravam leve tendência positiva em um ambiente de menor aversão ao risco (AP News).
O pano de fundo é claro: o corte recente de 25 bps pelo Fed adicionou tração ao cenário de desaceleração suave da economia, mas dirigentes vêm reforçando o discurso de prudência. Análises como a de Steve Englander, citadas por Reuters, mostram que o mercado está extremamente sensível a qualquer fala de membros do FOMC, especialmente após semanas de divulgação de dados prejudicadas pelo shutdown. O consenso segue apontando para um novo corte em dezembro, mas sem “cheque em branco” para 2026 (Reuters).
Na agenda dos próximos dias, a S&P Global destaca indicadores de inflação e atividade — entre eles PPI, vendas no varejo e confiança — como principais catalisadores de movimento nos juros e no dólar (S&P Global Week Ahead).
A economia chinesa entrou no último bimestre do ano sob uma dinâmica de “cresce, mas sem empolgar”. O PBoC manteve, pela sexta vez consecutiva, a LPR em 3,0% (1 ano) e 3,5% (5 anos), reforçando que não pretende afrouxar de maneira agressiva no curto prazo (Reuters).
Os dados do mês confirmam essa postura:
A S&P ressalta que os PMIs desta semana serão importantes para estimar o ritmo do 4º trimestre. Não há sinais de um grande estímulo à vista; o foco permanece na estabilidade gradual, o que tende a preservar commodities, mas sem a energia de ciclos passados.
O mercado começou a semana reagindo ao vazamento de um esboço de plano de paz entre Rússia e EUA, que incluiria concessões significativas da Ucrânia. A notícia, detalhada pela Reuters, gerou rejeição imediata em Kiev e desconforto na Europa, mas abriu espaço para especulação sobre um possível processo de desescalada (Reuters).
A simples existência de negociações já reduziu prêmio de risco: o Guardian registrou queda nas ações de defesa e recuo dos preços de gás natural em Londres, refletindo menor demanda por proteção (The Guardian).
No Oriente Médio, o Conselho de Relações Exteriores (CFR) afirma que a trégua em Gaza permanece frágil e sujeita a escaladas pontuais, mas a probabilidade de expansão do conflito diminuiu marginalmente (CFR).
O efeito combinado é de redução do prêmio de risco geopolítico, pressionando o petróleo para baixo e suavizando a volatilidade global.
A mídia brasileira segue destrinchando o impacto da nova tabela do Imposto de Renda, aprovada no Senado em 05/11. A AP News e a Reuters reforçam que a faixa de isenção foi ampliada para R$ 5.000, enquanto contribuintes de renda alta e dividendos acima de R$ 50 mil/mês sofrerão tributação adicional. O impacto bruto estimado para 2026 é de R$ 30–31 bilhões (Reuters).
Sites locais como UOL e InfoMoney explicam que novos cálculos de dedução automática reduzem o IR para quem ganha até ~R$ 7.350/mês, criando alívio importante para a classe média (UOL).
A pergunta que o mercado faz: como o governo vai compensar a renúncia?
A Fazenda já anunciou possíveis receitas adicionais via tributação de apostas eletrônicas, regras para fintechs e revisão de benefícios, mas ainda sem texto final. A incerteza mantém a curva longa mais sensível às manchetes.
Depois de novembro registrar uma das maiores altas do ano, o Ibovespa entrou em “modo correção”. Bloomberg Línea destaca que o índice em dólar caiu quase 2% nos últimos pregões, sinalizando realização global e local (Bloomberg Línea).
Outra matéria recente destaca que o índice engatou a maior sequência de quedas desde julho, com o dólar voltando para perto de R$ 5,40 — reflexo do reposicionamento global e da digestão doméstica do tema fiscal (Investing).
No câmbio, o real segue pressionado por fatores sazonais e incerteza fiscal: o dólar opera na faixa R$ 5,35–5,45, segundo cotações de abertura deste início de semana.
O cenário externo oferece algum alívio: petróleo mais baixo, geopolítica menos explosiva e juros americanos em queda sustentam o apetite por risco.
No Brasil, a aprovação da nova tabela do IR cria estímulo ao consumo e melhora a renda disponível — mas mantém o debate fiscal aberto, especialmente enquanto o governo não detalhar suas fontes compensatórias.
O ambiente global tem ajudado, porém o rali doméstico dependerá da credibilidade fiscal e da forma como o governo apresentará as compensações da reforma do IR. A conta precisa fechar, não existe numero negativo na contabilidade. Deficits precisam ser equilibrados ou tomando emprestimo, aumentando receita, imprimindo recursos. Este é um momento de transição: externalidades mais suaves criam janela de oportunidade, porém no âmbito local as apostas ainda são condicionais à execução fiscal e à disciplina orçamentária. Nossa recomendação permanece firme: diversificação com foco em qualidade de ativos, usando a liquidez como escudo e preparando o portfólio para capturar o upside se a restauração de confiança for confirmada.
(Por Marcus Müller, Economista-Chefe da Ascenda Wealth)